Jancis Robinson destaca os vinhos portugueses biodinâmicos
Eleitos “vinhos da semana” da Master of Wine inglesa, Coelheiros Tinto 2020 e Coelheiros Branco 2021 recebem a rara classificação “Very Good Value”
“Sustentabilidade e biodiversidade sozinhas não produzem um vinho da semana”, avisa Julia Harding, Master of Wine e editora sênior do JancisRobinson.com, ao apresentar os rótulos selecionados (um branco e um tinto) para a coluna do site em fevereiro deste ano.
O Coelheiros Tinto 2020 e o Coelheiros Branco 2021 destacam-se pela “combinação altamente desejável de qualidade, coeficiente de prazer e relação qualidade/preço, assim como por suas credenciais ambientais”, explica a escritora de vinhos, que concedeu a cada um, sua relativamente rara anotação Very Good Value (VGG)
Ambiente de plantação e produção dos vinhos da Tapada de Coelheiros
Produzidos ao norte de Évora, na região portuguesa do Alentejo, os vinhos refletem, de fato, a excelente fase em que se encontra o produtor e os notáveis esforços do proprietário da Tapada de Coelheiros, Alberto Weisser e de toda a equipe para restaurar o equilíbrio do ecossistema onde estão inseridos os cerca de 800 hectares da propriedade, 50 deles de vinha de parcelas selecionadas.
Florestas de sobreiros, pomares de nogueiras e oliveiras compõem a paisagem natural onde cervos circulam livremente e rebanhos de ovelhas são pastoreados pela propriedade para, por exemplo, manter o chão da floresta limpo, e morcegos e pássaros exercem um papel importante no controle de pragas dispensando o uso de pesticidas.
O que é o programa de sustentabilidade dos vinhos do Alentejo e como funciona?
Desde que aderiu ao Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), em 2016, a vinícola tem trabalhado para a conversão tanto dos vinhedos quanto da adega segundo as práticas biológicas de sustentabilidade ambiental, obtendo em 2022 a certificação biológica da vinha.
Elaborado com uvas colhidas à mão, o Coelheiros Branco é uma mistura de uvas, sendo 80% Arinto e 20% Antão Vaz. O vinho é fermentado sem adição de leveduras cultivadas, metade em barricas usadas de 500 litros e grandes foudres de carvalho, a outra metade em tanques de aço inoxidável.
“Isso, junto com o blend das duas castas, traz pureza aromática e profundidade de sabor, sem mencionar um final longo e persistente. Seis meses sobre as borras após a fermentação conferem textura e corpo a um vinho vibrante com frutas cítricas a complexidade incipiente que aumentará com mais seis meses em garrafa”, avalia Julia. Fresco e vivo, é um branco para ser bebido sozinho, mas também com uma suculência o torna versátil à mesa.
Qual a melhor maneira de apreciar o vinho Coelheiros tinto?
Por outro lado, Julia recomenda que o Coelheiros Tinto seja apreciado com comida “porque ainda é muito jovem e os taninos estão firmes ainda que sejam lindamente suaves”. Antes um blend 50/50 de Touriga Nacional e Alicante Bouschet, mas que a partir da safra 2020 passou a ser talhado com Touriga Nacional e Touriga Franca em partes iguais, para trazer um perfil mais elegante e aromático ao vinho.
A mudança, segundo o enólogo Luis Patrão, se deve às qualidades da Touriga Franca e sua contribuição ao blend. Em sua opinião, a casta não só tem boa resistência à seca, mas tende a ter um perfil mais frutado e suculento e taninos menos rústicos do que a Alicante Bouschet.
As variedades são fermentadas espontaneamente em tanque e passam um ano em barricas e foudres de 500 litros. “A fruta está perfeitamente madura para que tenha um sabor vivo: rica, profunda e ainda muito fresca. O carvalho mal dá gosto, mas suspeito que tenha suavizado os taninos. Tal como o branco, este bate acima do seu peso, concentrado, mas nada pesado.”, comenta a Master of Wine.
